quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Ser; ou não ser

Sejamos adultos. Quem realmente está aí para tudo que digo ou escrevo aqui? A ideia da utopia cabe mais.
Vamos colorir os pilares da hipocrisia de mãos dadas e dar pulinhos ensaiados na frente do espelho.
Quando as cores desbotam, simplesmente negociamos valores. Como um cambista bem intencionado(existe isso?). Assim como existem os "Da Vinci", existem  os amadores e os que nem se dão ao trabalho de pegar o pincel direito. Mas de qualquer forma, podemos comprar prontos os valores, a retórica, a magia, o portal da surrealidade, como aqueles adesivos decorados. Como um tênis, é só escolher o número adequado, quando não servir mais;  joga fora e compra outro. E mais,  permitir quem nos compra. Se é um americano consumista ou um oriental com princípios corrompidos.
E, assim como fazemos, talvez eles também deixem a etiqueta dizendo que é importado (dá mais status).
Sepulcro caiado. Belas lápides, mas a cova está podre.  Alguma surpresa? Lógico que não. Somos uma farsa. Sim, uma farsa.  Os adultos chamam isso de pudor e conveniência, já as crianças chamam de sinceridade.
Só deixamos o pseudônimo,avatar de lado quando fechamos os olhos. 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A vida como ela é

...e daí outro dia passamos numa estrada, não muito distante, próximo a terra dos alunos, e vimos um entrevero de cães. Estávamos, não com muita pressa, mas na velocidade que todos andam. Um cheiro muito desagradável pairava no ar. Logo deduzimos precipitadamente um animal qualquer morto. Não nos importou o que era, pois tanto faz, é apenas mais um que se vai. Mas pelo fato de passarmos pelo local,  observamos sem muito interesse; eram quatro cães vivos e um morto.
Um deles  andava de um lado para o outro no meio da rua. Como alguém que pensa em tudo mas não pensa em nada. O segundo estava ao lado sentado, com uma respiração tão intensa que um infarto  era eminente, seu suor era tanto que se misturava com uma saliva espalhada desordenadamente. O terceiro cão de longe chamava a atenção, pois ele gemia, latia como um grito de desespero, de pedido de socorro. Pulava com as palas sujas de um cão comum de rua, sobre o peito sem fôlego , como quem faz massagem cardíaca dava uns breves intervalos e continuava; lambia aquele rosto inerte de tal forma que num dado momento deu para ver os dentes brancos e parelhos. Que bela dentição tinha aquele moribundo vira-latas  que a tempos anarquizava as ruas, os lixos das redondezas juntamente com seus fiéis e inseparáveis amigos, vivendo na liberdade, longe de problemas, pudores e preconceitos.
A medida que me aproximava daquele cenário, lembranças e fatos vinham à minha mente.
E por fim, o quarto amigo foi o que não esqueço. Veio cabisbaixo, lentamente, com passos de quem não quer andar. Como não quis me aproximar (por que  o cheiro não deixava, mas isso não era notado, afinal, era um amigo), era difícil discernir o que trazia na boca. Prestando atenção em todo o contexto, me deparei com uma cena que possivelmente não verei mais. O objeto era um osso sujo que ele largou em frente o focinho frio, com a delicadeza de um beija-flor pairar no ar. Largou o osso, deu dois ou três passos para trás, dobrou as patas da frente primeiro, deitando aconchegado ao peito do seu melhor amigo desde a infância. Lembrando de momentos que passaram juntos, quase atropelamentos, restos de comida que dividiram para não passarem fome, dormindo na chuva, desprezados por todos. Respirou bem fundo como quem diz: ”Vá em paz meu bom amigo...”
Quando fui refletir sobre esse último “ato”, de um sobressalto o defunto ficou em pé e todos os cinco cães apontaram o dedo para mim e gritaram: “Ráh!! Enganei o bobo na casca do ovo!!”. Aí nesse instante acordei num pulo todo suado e levemente mijado...